Estava revendo os lances do jogo e percebi detalhes que não havia enxergado. Acho que a aflição do coração preto-e-branco foi mais forte que meus olhos apaixonados.
Ví o Biro Biro, tomando uma bola do Riquelme e rolando para o Wladimir, que vestia a camisa do Jorge Henrique. Gritei gol quando o Chicão cobrou a falta e a bola foi parar na rede pelo lado de fora. Não sei se mais alguém reparou, mas tenho certeza que li Neto na camisa do cobrador.
O Paulinho só não tomou amarelo em um lance faltoso, porque ao pedir desculpas ao juiz colombiano, a voz que foi ouvida no campo era de seu compatriota Rincon. Me encheu os olhos ver o Basílio e o Palhinha correndo lado a lado com Ralf como se fossem jovens do sub-20.
Mas a cena mais marcante de ontem foi a cobrança de falta, aquela que deu origem ao primeiro gol, pode procurar hoje nos programas de esportes da pra ver nitidamente o bigode do Zenon no rosto concentrado do Alex.
O juiz autorizou, o pé tocou a bola e enquanto ela viajava até a área Argentina, os jogadores no banco se levantaram mostrando os diferentes uniformes de 10 décadas, e antes que a bola fosse cabeceada para traz, não me lembro quem foi mas de longe me pareceu ser o Viola, a câmera registrou Edilson ao lado do também baiano Vampeta, Teleco gritando o nome do Rivelino e por fim a expressão nos rostos do Gamarra e do Willian que passavam a certeza de que o gol aconteceria neste lance.
Deu gosto ver o Danilo disputando a bola com a raça típica de um estreante, mas deixando que o doutor Sócrates desse o toque de calcanhar para o Émerson. Eu fui muito feliz quando chutei a bola para as redes do Boca, sim foi o meu pé que chutou a bola pra dentro do gol.
Durante a comemoração a emoção tomou conta de mim ao ver o Marcelinho girando os braços mais uma vez com a camisa do Timão, ele só parou de correr quando foi abraçado pelo André Santos e logo depois por Roberto Carlos, Ricardinho, Zé Elias, Gil e por fim, foi ao chão com o peso do Gilmar sobre o bolinho.
O segundo gol não foi menos emocionante, foi um típico lance de matador, de craque, ninguém viu o Ronaldo tocar na bola durante o jogo, mas basta uma arrancada, uma oportunidade, para que o Émerson nos faça lembrar do Fenômeno. Eu achei poético quando a grua atrás do gol do Timão mostrou a comemoração solitária do nosso jovem e gigante goleiro.
Ainda não entendi porque o Ronaldo estava de peruca, só pode ser pagamento de promessa, afinal quem não reconheceria a raça e o queixo do nosso eterno camisa 1.
O Tite nem precisou colocar em campo o talismã Tupãzinho ou o matador Romarinho, ambos com diminutivo no nome e estrelas gigantes nos pés. Confesso que fui ganancioso e torci para ver um gol argentino, mas o Tevez não ligou por passar em branco. "O que vale é a vitória do grupo", declarou ainda em campo e abraçado com Casagrande e Leandro Castán.
Final de jogo, início da história, 25 milhões de medalhas distribuídas, miríades de torcedores brasileiros cabisbaixos e tentando imaginar como conviver com o fato de não ser corintiano, a noite em claro deitado ao lado da camisa do seu time, como um marido que tenta esconder de sua esposa uma nova e devastadora paixão.
Como se não bastasse toda a emoção de ontem, hoje pela manhã abri a porta de casa e me deparei com o jornal, que em destaque deixava claro que não havia sonhado, é real Corinthians campeão da Libertadores, a foto do meu filho de 10 anos levantando a taça me encheu de orgulho e me fez pensar, o que eu esperei uma vida para ver ele terá uma vida pra lembrar. Salve o Corinthians.